quarta-feira, 25 de julho de 2012

Análise: Luan Santana – Quando chega a noite



ABR 13, 12REVIEW – Luan Santana – Quando chega a noite
O CD do Luan Santana saiu justo na semana em que eu quase fui pra vala. Por isso, não cheguei a ouvir na época. E depois, quando finalmente eu pude baixar o disco para ouvir e tecer os comentários aqui no Blognejo, todos os links que eu encontrei eram para download do disco em uma qualidade ruim. Demorou até que eu conseguisse baixar o disco com uma qualidade razoável o suficiente para que eu pudesse escrever o review. Pois cá estamos, finalmente.
Mesmo não tendo ouvido o disco até o dia de ontem, eu cheguei a acompanhar alguns comentários nas redes sociais. Me impressionou o “atraso” na cronologia dos comentários. O que parecia é que estavam debatendo o primeiro disco do garoto, com aquele papo beeeeeeesta de “ah, isso não é sertanejo”. Putz, de novo essa ladainha? Creio ser esse o tema mais batido de toda e qualquer discussão a respeito de música sertaneja em todos os tempos. Uma pessoa que usa essa frase como argumento só comprova a incapacidade de argumentar com qualquer outro ponto realmente válido. Ora, se o Luan Santana não é sertanejo então Jorge & Mateus provavelmente tenham se tornado uma banda de rock britânica, Victor & Leo provavelmente se tornaram cantores folks americanos, assim como a Paula Fernandes; Fernando & Sorocaba vivaram cantores country, e por aí vai. Ninguém mais é 100% sertanejo.
Me estranha essa discussão, ainda mais pelo fato de que o disco “Quando chega a noite” é, em comparação com os anteriores do Luan Santana, o “mais sertanejo” deles. No disco, o Luan gravou músicas em estilos que ele jamais incluiu em nenhum outro disco, a não ser nas poucas regravações que fez até hoje. O disco novo tem até sanfona, vejam só. Vaneira, guarânia, arrocha, canções românticas com guitarra… Ora, essa é a fórmula básica de um disco sertanejo. E mesmo assim há quem tente levantar pela enésima vez a discussão a respeito da “sertanejibilidade” do Luan Santana.
Outra discussão levantada na ocasião do lançamento do disco foi a respeito da maturidade do trabalho do Luan. Observa-se, claro, uma mudança na estratégia do trabalho, mas não creio que possa ser considerado um trabalho mais “maduro” que os anteriores simplesmente pelo fato de que quando se diz isso passa-se a impressão que os discos anteriores do Luan Santana eram imaturos. Ora, eram discos que demonstravam uma plena consciência do público que o Luan Santana pretendia atingir. Para mim essa é uma tremenda prova de maturidade. Poucos artistas sertanejos trabalham dessa forma. Diferentemente do que a maioria pensa, eu sempre achei o Luan Santana muito mais profissionalmente maduro do que grande parte dos artistas sertanejos, que se limitam apenas a copiarem uns aos outros.
Mudar o foco agora é, aliás, mais uma demonstração dessa maturidade. O público do Luan Santana está envelhecendo, assim como ele. Chega uma hora que não dá simplesmente pra ficar agradando apenas uma parcela do público que costuma mudar de gosto a cada ano. Depois do “boom” Luan Santana, se eu bem me lembro, o mesmo público já foi visto migrando para Justin Bieber e agora para o Rebelde. Tornar-se mais sertanejo era de fato a única opção que o Luan Santana tinha.
Chegaram a debater até as novas fotos do Luan Santana, dizendo que estavam muito puxadas para uma linha “Crepúsculo”, o que jogava por terra toda a alegação de “maturidade” do novo trabalho. Mas pelo amor de Deus, são só fotos. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra. Além do mais, a julgar pelo título do disco, as fotos são totamente compreensíveis. Dá a impressão de que tudo que o Luan faz ou lança o joga na cova dos leões no debate sobre o quão sertanejo ele é. Mas se a mesma coisa fosse feita por qualquer outro artista, essa discussão nem apareceria.
Claro que seu trabalho novo ainda tem lá seus resquícios dos tempos mais “infanto-juvenis”, como os efeitos de teclado e músicas com letras mais nessa linha, como “Virou Star”, além de canções numa pegada mais direcionada a esse mesmo público, como “Quando chega a noite” e “3 de maio”. Mesmo assim, o longo repertório do disco (17 músicas) traz muito mais canções “profundas” como “Incondicional”, “Te Vivo”, “Esqueci de te esquecer”, e outras na tradicional balada universitária mas com letras menos infantis, como “Você de mim não sai”, “24 horas”, “Telepatia” e outras. A última canção do disco, “Promete”, uma guarânia bem tradicional, é apenas o carimbo definitivo dessa mudança de foco e do destaque às características “mais sertanejas” do Luan Santana.
O disco traz também uma mudança na linha dos arranjos. Nos discos anteriores, o que se priorizava era o arranjo de violão, muitos deles incrivelmente difíceis de se reproduzir no dia a dia, inclusive, dado o grau de dificuldade. No novo trabalho, os arranjos de violão são bem mais simples que os dos discos anteriores e a guitarra ganhou muito mais espaço, além da sanfona, que eu já mencionei acima.
As boas sacadas, além da excelente “Incondicional”, estão nas músicas que aproximaram o Luan de um sertanejo mais comum, como “Nega”, que tem sanfona e arrocha, e “Coladinho”, que mistura samba rock com vaneira e ainda dá muuuuito destaque à sanfona. Curiosamente, dias antes do lançamento do disco vazou uma versão da música “Coladinho” que era 100% reggae. A versão que entrou no disco, no entanto, é bem mais inteligente e sacada do que a que tinha apenas a mera obviedade do reggae.
Um dos pontos “contra” do disco, no entanto, é o mesmo da maioria dos CDs “Ao Vivo” (CDs e não DVDs, reitero). O público “fake”, captado em shows e depois inserido no disco, prática banal nos dias de hoje, acaba sempre ficando artificial demais. Os gritos da galera ficam ou demasiadamente exagerados ou demasiadamente fora da realidade. Num momento você ouve praticamente um estádio inteiro gritando e logo depois apenas uma meia dúzia de gatos pingados cantando um trecho da música. Os backing vocals do disco, inclusive, por muitas vezes se confundem com o público, atrapalhando a identificação imediata.
No fim das contas, é um disco consciente. Continuo repudiando o uso do termo “mais maduro”, justamente porque sempre achei o trabalho do Luan bastante maduro. Se não fosse, não teria feito o sucesso que fez até hoje. Produzido pelo Fernando Zorzanello (do Sorocaba), que produziu também o DVD da dupla Thaeme & Tiago e co-produziu o Acústico na Ópera de Arame da própria dupla, “Quando Chega a Noite” é um disco muito mais próximo da atual realidade do mercado, o que mantém o Luan Santana como um produto altamente competitivo, desde que sejam escolhidas as músicas de trabalho corretas. É agradável aos ouvidos, com ótimas canções e um Luan Santana bem inspirado no que diz respeito ao aspecto vocal.

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